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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sucessao Ano de 2004 Cidade de Goiás - Arquivos

SUCESSÃO 2004/CIDADE DE GOIÁS

Antiga capital ainda é cobiçada pelos novos políticos

A Cidade de Goiás é uma das principais metas dos partidos nas eleições do próximo ano. Isso porque ela rende muita visibilidade a quem ocupar o cargo

GUILLERMO RIVERA

As eleições na Cidade de Goiás perderam o destaque dos noticiários do Estado desde que Goiânia assumiu o posto de capital dos goianos. Ou pouco depois disso. Mas a cidade não perdeu seu status no meio político. Prova disso é o número de pré-candidatos que pleiteiam o cargo abertamente. Para filtrar os pré-candidatos e depurá-los em candidatos, será necessário que se acompanhem os movimentos do prefeito Boadyr Veloso (PP), considerado o fiel da balança. Boadyr pode tanto ser o candidato da base do governador Marconi Perillo (PSDB) quanto seu adversário mais execrado. A segunda hipótese é justificável porque são feitas ao prefeito várias acusações de improbidade administrativa, levantadas pelo periódico Correio Braziliense. Nelas, diz-se que o prefeito não fez licitações para a reconstrução do município, fortemente abalado após uma enchente ocorrida no final de 2001, e que houve desvios de recursos na execução de obras. As acusações pessoais não são menos graves. Boadyr foi acusado de estupro, atentado violento ao pudor e corrupção de menores. Consta em denúncias que ele pagava até 700 reais para tirar a virgindade de meninas. O argumento do prefeito frente à Justiça é que as vítimas, todas maiores de idade e já casadas, se retrataram. Mas o fato é que as denúncias abalaram a credibilidade do prefeito, que terá mais dificuldades que o esperado para se reeleger. E abre novas possibilidades na cidade, alvo da cobiça de muitos partidos.
É o caso do PT. Tradicionalmente alheio ao processo eleitoral no município, o partido também terá um forte candidato. José do Carmo Alves Siqueira, chefe de gabinete da Prefeitura de Goiânia e professor de direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) no município de Goiás, apresentou sua candidatura pelo Partido dos Trabalhadores. O PSDB está indefinido entre quatro pré-candidatos. Todos de renome no Estado, como, por exemplo, o diretor de Assuntos Institucionais da Brasil Telecom, Pedro de Moraes Jardim (PSDB).

Patrimônio do Mundo — Outro candidato forte do PSDB é o secretário estadual de Saúde, Fernando Passos Cupertino de Barros, que, no entanto, nega sua candidatura. “Não é a minha vocação. Prefiro ficar aqui, fazendo meu trabalho técnico”, afirmou. O secretário comenta que esta não é a primeira vez em que seu nome é comentado, mas que esta insistência não conseguirá demovê-lo de sua negativa. “Na eleição passada foi a mesma coisa. Eu fico grato por se lembrarem de mim, mas insisto que não sou candidato.” Não que Cupertino esteja alheio ao processo. Segundo o secretário de Saúde, a base aliada se unirá em torno de um nome com aprovação popular na cidade, independentemente de ser nativo ou forasteiro. “O que me importa é que seja um candidato do PSDB. Lutarei por isso.”

Cupertino faz um mea culpa ao admitir que não tem ido à cidade de Goiás tanto quanto gostaria. “Não tenho ido muito à cidade, por causa das atividades da secretaria. Estive lá três ou quatro vezes no segundo semestre.” Mesmo assim, comenta que tem conversado com os vereadores, sobretudo do PSDB, e discutido projetos com pré-candidatos. Estes projetos visariam dinamizar a economia da cidade, para que ela não se aferrasse tanto ao turismo histórico. “Não basta viver sobre os louros do passado”, sentencia.

Outro secretário de Estado indicado para ser candidato em Goiás é o secretário estadual de Controle Interno e procurador do Estado de Goiás, Norival de Castro Santomé (PSDB). Ele admite que seu nome foi, realmente, colocado à disposição do partido. Porém, ressalta que ainda não há qualquer tipo de definição — seja qual o nome do candidato e, conseqüentemente, se ele virá de Goiânia ou entre os moradores da cidade de Goiás. Norival, aliás, refuta o adjetivo de forasteiro que lhe é imputado. “Moro nas duas cidades, e leciono na cidade de Goiás. Continuo tendo minhas atividades lá.” Mas admite, no entanto, que seu trabalho — ou como prefere chamar, seu domicílio funcional — é, primeiramente, centrado em Goiânia.

O procurador comenta que Goiás é uma cidade que causa toda uma simbologia entre os goianos, razão primordial para que mesmo os que lá não residam queiram ser prefeito da cidade. “A Cidade de Goiás é um patrimônio não somente dos vilaboenses, mas do Brasil e do mundo.” Indiretamente, ele se refere ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, outorgado ao município pela UNESCO em 2001. “E pretendemos extrair as vantagens que o título oferece”, acrescenta. Vantagens que Norival acredita que tenham derivado do trabalho do governador Marconi Perillo, seu companheiro de partido. “Nunca houve um governo estadual que destinasse tantos recursos à cidade.”

Norival também comenta que o município “merece uma administração criteriosa”. Ele nega, mas pode ser outra indireta do procurador — desta vez, destinada ao prefeito Boadyr Veloso, que, aliás, não é o candidato favorito à disputa, de acordo com Norival. Outro candidato que não possui grandes chances para Norival é o petista José do Carmo. “Ele é preparado e ético, mas não creio em sua candidatura. Deverá haver apenas uma candidatura de situação e a candidatura do PMDB”, analisa.

José do Carmo, entretanto, mostra-se mais animado do que o cético Norival. Nome único do PT para concorrer à prefeitura, ele acredita ser mais preparado do que os demais candidatos, seja por um motivo ou por outro. O principal seria sua empatia com a cidade. “Sou natural de Goiás, saí da cidade pela primeira vez quando fiz 18 anos para estudar em Goiânia. Portanto, minha relação com a cidade é diferente da dos demais candidatos. O Norival, o Pedro e o Fernando estão mais ausentes da cidade.”

Cidade de Goiás é um berço cultural no Centro-Oeste, os candidatos têm a idéia de que a cidade possa crescer, não tem a mesma importância econômica que outras cidades mais novas, mas tem importância política devido à sua visibilidade.

O chefe de gabinete da Prefeitura de Goiânia afirma que o PT fará oposição no município, seja sozinho ou com outros partidos. “Já tive conversas com o PMDB, mas as negociações estão em aberto.” Outro partido com o qual José do Carmo admite negociações em andamento é o PL, que compõe a dobradinha com o PT na esfera política nacional. “Mas temos de ampliar nossas alianças”, adverte. Nos planos de José do Carmo, estão os seguintes partidos: PPS, PSB, PV e PC do B — principalmente o PV, já que o vereador Rodrigo Borges é o presidente regional do partido. O partido, no entanto, julga-se mais forte do que há quatro anos. O PT prevê obter de três a quatro vereadores na cidade e, com a aliança que José do Carmo planeja, possibilita-se a eleição de até seis vereadores, que seriam maioria em uma Câmara de onze vereadores.

Ele também comenta sobre as acusações feitas contra o prefeito, no momento, seu maior adversário político. “É uma gestão que já comprometeu a cidade, e a auditoria revelou ainda mais o despreparo do prefeito. Aliás, o município de Goiás teve uma sucessão de mandatos que o prejudicou.” Assim como os demais, José do Carmo acredita que as denúncias comprometam de fato o prefeito, mas não a base aliada. Isso porque Boadyr Veloso seria isolado pelos seus companheiros, caso as críticas se confirmem.

Quem Tem Menos? — Quem já se afastou do prefeito foi Francisco Eliezer Curado, hoje no PL. O médico radiologista confessa ter muita mágoa pessoal do prefeito Boadyr Veloso. “Ele se valorizou acima do que deve, se afastou das bases e ficou desprotegido aos ataques adversários”, critica. Francisco Curado lembra que foi candidato a deputado estadual em 2002 pelo PP, então PPB, e acrescenta que sempre foi do PP, mas a administração do prefeito desgastou o partido. Segundo o radiologista, foi a insistência de Boadyr Veloso em ser reeleito que motivou sua saída. Depois de 22 anos de filiação, Francisco Curado passou para a legenda que detém o uso deste número — o PL. Hoje, faz juras de amor eterno à sua nova casa. “O PL é um partido mais fácil de se conversar. Não pretendo sair do partido.”

Francisco Curado confirma que o PL realmente tem conversas com o PT, por causa de sua amizade com José do Carmo e devido à proximidade de discurso dos partidos. Mas lembra que há duas bases aliadas, uma estadual e uma da Presidência, e em ambas o PL possui posições diferentes. Dada a escolha, completa, prefere a base estadual, sem o PT. “Só que não temos oposição a nenhum partido.” Outro apoio que o radiologista procura é o de Brasílio Caiado, membro de uma das famílias mais tradicionais do Estado. As famílias tradicionais, aliás, são um componente complicador da política da Cidade de Goiás, mais do que em qualquer outro município. “A política aqui é bem difícil no que tange à aproximação. São três séculos de famílias e de políticos, o que leva à formação de núcleos isolados.” Francisco Curado admite que as famílias influenciam, mas de uma forma positiva, como lideranças que têm de ser ouvidas. “Aqui a política realmente é uma arte, tem de se juntar uma colcha de retalhos.” Nesta colcha de retalhos não cabe o primo de Francisco, o ex-prefeito Abner de Castro Curado (PMDB), mais conhecido como Biné Curado. Não por qualquer mágoa pessoal. “É que eu e o Biné somos divergentes politicamente.”

Porque tantas pessoas querem assumir a Prefeitura de Goiás? O município não tem muitos eleitores, nem grande arrecadação. Francisco Curado pensa que assumir esse cargo é um sonho de quem tem planos políticos, dada a importância simbólica da cidade para o Estado. “É por isso que temos um excesso de candidatos em todas as eleições.” Algo que deve ser repetir nesta campanha. Uma campanha, note-se, que é qualificada pelo candidato do PL como de alto nível, com uma maioria de candidatos de boa qualidade. “As pessoas terão uma melhor noção na hora da escolha nas urnas. Mas ainda acho que a política tem de ser feita de forma diferente. O candidato tem de ser escolhido por seus defeitos mais do que por suas qualidades. A pergunta que o eleitor deve se fazer é: em termos de defeitos, quem tem menos?”

Presidente do diretório municipal do PMDB, o médico pediatra Biné Curado foi também prefeito da Cidade de Goiás de 1993 a 1996. Ele se candidatou ao cargo em 2000, mas perdeu para Boadyr Veloso. Amadurecido com a derrota, Biné Curado evita alavancar a sua candidatura com críticas ao prefeito. “Existem pesquisas que dizem o que a população pensa do prefeito”, esquiva-se. Mesmo sendo de oposição ao governador Marconi Perillo, Biné Curado também não faz comentários sobre sua gestão, talvez com receio de desagradar a população local, com a qual o governador tem grande aceitação popular. Apenas destaca que sua gestão não pode ser esquecida quando se fala do processo que conferiu à cidade o título de Patrimônio Histórico da Humanidade. “Muitas obras que deram o título à cidade começaram em meu governo. Aliás, algumas não foram acabadas. É uma exigência da UNESCO que, para a obtenção de título de Patrimônio Cultural da Humanidade, a cidade tenha esgoto, o que não está completamente atendido aqui.” Outro ponto que preocupa Biné Curado é a ausência de propostas de empregos para a cidade. “Temos de ver quais candidatos têm proposta de diminuir o desemprego entre os jovens da cidade — estes, sim, nosso maior patrimônio.”

Pesquisa Polêmica — Um dos mais expressivos candidatos da situação local é José Batista Pinto. Ex-presidente do PSDB local, tabelião-primeiro de notas e registrador público da comarca de Goiás, é, no entanto, a primeira vez que ele se candidata a algum cargo político. José Batista, que transferiu a presidência do partido para Fernando Cupertino no dia 17 de outubro, aposta em uma intervenção por parte do governador para agregar força a sua candidatura. Em qualquer caso, o tabelião não parece ser xenófobo. “A pretensão das pessoas que não residem aqui é legítima. Goiás está brilhando internacionalmente pela sua importância histórica, por isso que querem vir para cá.” Mesmo assim, acredita que há uma marcha natural para se discutir uma chapa local. Uma chapa, afirma, sem a participação dos demais partidos. “Sem dúvida, se eu chegar à convenção, defenderei uma chapa pura. Composições com outros partidos, somente para vereadores.”

José Batista pode até tecer comentários sobre as eleições, mas recusa-se terminantemente a falar sobre as denúncias contra o prefeito. “Recuso-me a tecer comentários, não sou dado a comentar problemas de outrem. Só posso dizer que a administração é boa em termos de realização de obras, apesar de polêmica.”

O prefeito Boadyr Veloso, médico e funcionário do Banco do Brasil, é, para o bem ou para o mal, a figura mais forte dessas eleições. A consistência das denúncias contra ele guiará a estratégia da base aliada para o próximo ano. Ou seja, se houver algo de verdade nestas acusações, elas complicarão seu trabalho para o próximo ano. Se não houver, ele virá como favorito, respaldado em uma “certidão negativa” emitida pela Justiça. É o que acredita o prefeito. “Realmente, foi feita uma inspeção na prefeitura, explicado o que tinha de ser explicado. Isso é ótimo. É como se fosse um vestibular para mim, que nunca fui político.”

Boadyr não está preocupado com as constantes acusações feitas à sua pessoa. “As denúncias não me preocupam, são apenas problemas de engenharia que estão sendo esclarecidos.” E as críticas pessoais que lhe são imputadas são feitas por revanchismo da imprensa goiana, pensa o prefeito. “Fui chantageado pelos jornais, principalmente aqui da cidade. Na maioria da imprensa — e não estou dizendo isso do Jornal Opção — você vale quanto paga. Se não paga, eles caem de pau.” Outro motivo para tantos ataques, afirma, é que as pessoas que cobram atitudes de sua administração não entendem como funciona a cidade. Boadyr explica que Goiás é dividida em duas partes, o Centro Histórico e o Entorno. As pessoas que criticam o prefeito não conseguem ver por que ele prioriza o Entorno sobre o Centro Histórico. “Logicamente me preocupo com o Centro. Afinal, ele nos deu o título. Mas há um atrito a ser resolvido com a periferia, que possui nosso maior patrimônio, a população local.”

Em um assunto que, em comparação, parece até ser mais ameno — a política local — o prefeito não é menos polêmico. Ao contrário do que afirmam o instituto de pesquisas Grupom e o jornal Tribuna do Planalto (classificado pelo prefeito como “um jornalzinho de Goiânia”), que mostram o prefeito com pouco mais de 3 por cento da preferência dos eleitores contra quase 30 por cento de Biné Curado, Boadyr se considera o favorito para ganhar as eleições e diz liderar as pesquisas. Pelo menos, nas pesquisas de opinião que lhe interessam, que são as feitas pelos agentes de saúde em um corpo a corpo com a população local. “Não sei onde fizeram aquela pesquisa”, reclama.

Ao comentar o quadro político da cidade, Boadyr faz questão de frisar que tem a maioria na Câmara dos Vereadores. Em seus cálculos, sete ou oito dos onze vereadores são seus aliados, dependendo do momento. “São três do PMDB, que é um partido de oposição, um do PV, que nunca sabemos qual a posição dele — hoje ele é oposição —, seis da base aliada e um do PFL, que está aborrecido comigo mas é meu amigo, e deve me apoiar”, contabiliza. Assim, Boadyr se mostra animado para as eleições do próximo ano, pois crê que terá maior apoio do que teve em 2000. Quando se candidatou pela primeira vez, o prefeito procurou diversos partidos para viabilizar sua eleição. Tentou o PSDB e o PFL, mas conseguiu apenas com o ex-PPB. Tendo vencido com apenas um partido em 2000, raciocina, por que não apostar em uma vitória mais fácil em 2004? “Hoje é uma coligação com sete partidos, cada um com 17 candidatos a vereador.”

Sobre os demais candidatos, Boadyr não faz críticas. Pelo contrário. O prefeito se desmancha em elogios, mesmo àqueles que se dizem seus adversários. Por exemplo, o médico Francisco Curado. “O Francisco é uma ótima pessoa. Não tenho nada contra, seria um ótimo vice-prefeito. É um médico trabalhador e, sobretudo, progressista”, comenta, fazendo uma alusão ao seu partido, do qual Francisco se desfiliou. Já Biné Curado não causa temores a Boadyr. “O Abner, por ter ficado de fora da política, perdeu seu peso eleitoral. Ele não tem a mesma força que em 2000.” Para o prefeito, a constatação desta perda de força pode ser feita facilmente. “Os suplentes de vereador Moacir Silveira Ribeiro (ex-PSC) e Vilma Gertrudes Veiga (ex-PMDB) mudaram de lado, e são candidatos pela situação em 2004.” A máxima com a qual Boadyr trabalha é a de que todo opositor pode virar aliado. Até mesmo José do Carmo, que o prefeito também não considera um grande candidato. “Ele é uma boa pessoa, mas ligado ao Centro Histórico da cidade. E lecionar na Faculdade de Direito soma pouco para quem quer ser candidato.” O prefeito se coloca, portanto, na condição de favorito à disputa. Mas diz não estar tão empolgado quanto da primeira vez. Não que o cargo tenha perdido seu charme — é apenas que ele não vê mais motivação pessoal para se candidatar, comenta. “Minha primeira eleição foi mais importante. A reeleição será porque pediram. Meu nome estava enlameado da primeira vez em que me candidatei, e queria deixar exemplo para meus filhos. Hoje a situação já é melhor, pois a população é um júri maior que salvou meu nome.”

Além do patrimônio histórico

A Cidade de Goiás ainda luta para se recuperar da enchente que houve em finais de 2001. Por isso, a conservação do patrimônio histórico da cidade é a prioridade dos prefeitos. Mas há também uma cidade fora do Centro Histórico, que merece alguns cuidados. São problemas econômicos e sociais que afetam os 28 mil habitantes da Cidade de Goiás.

Um deles é o inchaço da periferia da cidade, por motivos peculiares. O prefeito Boadyr Veloso conta que a cidade passa por um processo atípico de expansão. Com o passar do tempo, conta, houve uma desertificação do Centro Histórico, com a aquisição das casas por parte de pessoas que vão para a cidade de Goiás apenas para passar uma temporada ou fins de semana. As pessoas que moravam no Centro eram pobres, mas detinham as casas através de heranças. Ao serem contatados por turistas endinheirados, eles vendiam suas residências mas não deixavam a cidade. Outro motivo, mais comum, é a criação de oportunidades de empregos no município. “A corrida pelo ouro trouxe muita gente para a cidade. Quando o garimpo foi desativado pelo Ministério Público eles ficaram”, afirma o prefeito. Isso gerou um índice de desemprego muito alto, que tem de ser contornado de alguma forma.

O prefeito aposta na zona agrícola da Cidade de Goiás. Ele contabiliza 22 assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no município, o que, lembra, acarreta grandes despesas com transporte escolar. Mas é ao mesmo tempo um caminho estudado pelo prefeito. Boadyr planeja construir escolas-pólo para os assentamentos, para que os moradores não percam a identidade de produtores rurais. Além disso, o prefeito ressalta que a produção dos assentados é livre de agrotóxicos e transgênicos, o que pode ser explorado por muitos turistas com estilos de vida alternativos que vão até a cidade de Goiás. Ainda na área da agricultura, o prefeito comenta que o frigorífico localizado na vizinha Itaberaí abate 80 mil frangos por dia, mas sabe que há a capacidade para 130 mil frangos. Assim, a idéia é fazer um criatório de frangos com os assentados para abastecer o frigorífico.

José do Carmo também apresenta idéias de agricultura não-tradicional. Ele diz que o ministro da Pesca e Aqüicultura, José Fritsch, esteve na cidade domingo, 9, e comentou que o município tem possibilidades ótimas com a piscicultura. Incluindo-se, aí, o lado turístico da atividade, ou seja, a pesca esportiva e a criação de peixes ornamentais.

Trabalhar projetos que tenham aceitação, pesquisas com a população para saber seus anseios, áreas ambiental, cultural e de turismo, confluência natural das outras duas.

O que mais frustra o prefeito, no entanto, é não poder aproveitar os fartos recursos do município por determinação da Justiça. Ele comenta que o ouro minerado na cidade de Faina é o mesmo da cidade de Goiás, mas que a antiga capital do Estado não pode garimpar o minério para não contaminar a água local com mercúrio. “Vamos morrer de fome sentados no ouro.”

Sem mineração, com terreno pobre para a agricultura e sem indústrias (“o governador se recusou a trazer indústrias. Ele quer que seja instalada a indústria do turismo, que não faz fumaça. Mas o retorno não é imediato”, diz o prefeito), sobram poucas alternativas ao município. A principal seria, então, prosseguir nos investimentos turísticos. Boadyr comenta que já tem tudo planejado para atrair mais turistas e, principalmente, fazê-los gastar mais dinheiro na cidade. “Tenho um projeto de fazer um aeroporto, um teleférico, além de outros projetos turísticos.” Os projetos, no entanto, dependem de liberação de recursos e, principalmente, de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o que está sendo mais difícil do que o dinheiro.

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