Cidade de Goiás: terra de apelidos
Que os meus conterrâneos da cidade de Goiás ( gosto de falar de Goiás Velho) possuem o poder de apelidar as pessoas, não tenho a menor dúvida.
Ali são vários apelidos, uns já consagrados e bem individualizados e marcam e bem as pessoas. Outros nem tanto. Dentre outros estão o Babaú, Tio Sam, Juquita Peru, Juquinha Caolho, Chané, Bacurau, Fio dos Passos, Zito, Zitão,Bebé da loca, Nego da Inhá, Chico Fissura, Girafa (este era o meu apelido, pois era magro e alto, e fui apelidado pelas poucas vezes que ia a Goiás). E vários outros que não me lembro agora.
Pois bem, já estudava na Faculdade de Direito, a nossa escolinha da Rua 20, quando apareceu um engraçadinho, oriundo de São Paulo, e afirmou que ficaria na cidade de Goiás por uma semana e ninguém o apelidaria.
Lembro-me que este rapaz fez uma aposta com o Orley Gavião Gonzaga de Castro, que posteriormente seria prefeito da cidade, de que ficaria lá por uma semana e não receberia apelido algum e voltaria de lá consagrado sem qualquer epíteto.
Feita a aposta, o rapaz dirigiu-se àquela cidade.
Ficou hospedado no antigo Hotel Municipal, em frente ao Rio Vermelho.
Não se identificou com ninguém.
Pediu um apartamento na parte de cima do hotel, e de vez em quando abria a janela para tomar um ar refrescante vindo do rio.
Ali passou os dias da semana.
Sem se identificar. Sem falar com ninguém. Apenas fazendo as refeições necessárias do café-da-manhã, o almoço e o jantar.
Conseguiu ler um bom livro e matutar a respeito de sua vida.
Egresso de São Paulo, veio estudar em Goiânia e conheceu o pessoal oriundo de Goiás Velho.
Ficou sabendo da mania dos vilaboenses de que todo mundo possuía apelido. Daí o surgimento da aposta com o Orley.
Leu e releu o livro trazido consigo.
E, de vez em quando, saía até a janela para receber o alívio de um arzinho fresco advindo do Rio Vermelho.
De conseguinte, passado os dias da semana, consciente de que não estivera em contato com nenhum elemento da cidade, procurou a portaria do hotel, fechou sua conta, pegando sua bagagem, ia se retirando do hotel.
Na porta do estabelecimento de hospedagem, brincavam alguns meninos e estes ao verem o hóspede sair, um gritou para o outro, em alto e bom som:
– Chiquinho, venha correndo, o “Cuco” está saindo.
E o nosso amigo paulistano, com a cabeça girando a mais do que 360 graus, saiu de Goiás com a certeza de que, na verdade, todos ali recebem um apelido e por mais que procurasse ficar ignorado e escondido, recebeu um apelido inusitado:
“Cuco”.
Orimar de Bastos é juiz de Direito aposentado, advogado
militante em Caldas Novas e membro da Academia Tocantinense deLetras, ocupante da Cadeira 33
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