Marchinhas em Vila Boa de Goiás
Em um tempo em que a indústria fonográfica (nome antigo que dávamos ao processo industrial da música em discos e outros recursos de gravação de sons) ainda não dominava todos os rincões, a nossa vetusta cidade de Goiás, então ainda capital do Estado, cantava nos carnavais: “Veneno... Veneno! É o nome de você / Por quê? Ora, porque pequeno / é todo frasco de veneno.”
A marchinha (de João Ribeiro e Yaneru) marcou o tempo e virou história na vida das pessoas e da cidade. Penso que, alguns anos mais tarde, foi a vez de “(...) e o batom que você traz na boca tem estricnina”, que ouvi dos lábios sonoros e maviosos de Eli Camargo... Acho que esta era uma marchinha de seu pai, o maestro Joaquim Edson Camargo. Corrijam-me, por favor!
Gostei de saber que, na antiga capital de Goiás, patrimônio cultural da humanidade, a efervescência cultural aumenta ainda mais, com um belíssimo festival de marchinhas. Para ser mais exato, trata-se do Primeiro Concurso de Marchinhas Carnavalescas da Cidade de Goiás. Capitaneados pela secretária municipal de Cultura, Mara Públio, o músico João Marcelo e o poeta Ademir Hamu coordenam o evento, que alistou dezenas de marchas inéditas.
Converso com Ademir Hamu e João Marcelo, ouço gravações e me contagio com o ritmo alegre e brejeiro, brasileiríssimo, das marchas carnavalescas (ou marchinhas; é tão nosso isso de acarinhar com o diminutivo as coisas de que gostamos!). Convidam-me para a finalíssima, na noite de sexta-feira, véspera de carnaval.
Infelizmente, o cronista contradiz o gênero e se faz anacrônico, escrevendo antes dos fatos. Mas nada se perde, porque os jornais e a mídia eletrônica certamente trarão até nós os resultados finais. Sei apenas, nestas horas de véspera, os nomes das finalistas, com seus autores. Vejam aqui, em ordem aleatória: A mais bela (de Carlos Alberto Mendes Bluesman); Carnaval é em Goiás (de Luci Espírito Santo B. Gomes); Jóia Rara (de Idelmar de Paiva Neto); Vamos pra Goiás (de Fernando Cupertino); e Sonho de Carnaval (de Orion Tadeu de Amorim.
Seja qual for o resultado, a vitória já se mostra. Não a vitória desse ou daquele compositor, de uma ou outra marchinha, mas a da realização. Vitória do trio de organizadores, dos inúmeros compositores e de toda a cidade, que, em quase trezentos anos, consolida-se, meritoriamente, como nosso berço cultural.
Imagino que um CD se fará, documentando a história. E aguardo o meu exemplar.
Luiz de Aquino
é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras e escreve aos domingos neste espaço (poetaluizdeaquino@gmail.com)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Marchinhas em Vila Boa de Goiás
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